domingo, 19 de julho de 2009

Cirurgia Hospital Nove de Julho

Fiz um breve relato dos dias que passei internado no Hospital Nove de Julho para uma cirurgia no cérebro, junto com algumas fotografias feitas no periodo de 6 a 13 de julho.
Outras fotos podem ser acessadas em meu perfil no Orkut pelo nome Alvaro Taniguti.
Observação:
O texto não sofreu grandes intervenções e pode conter alguns erros, uma vez que minha digitação ainda não está grande coisa.
Boa leitura!
Segunda (6), Internação O tempo agradável, com algumas nuvens no inverno paulistano, inspirava ainda mais os bons pensamentos sobre a cirurgia que se aproximava. A atenção e a cordialidade, típicas do Hospital Nove de Julho, pude encontrar novamente depois de quase sete anos da primeira cirurgia. O único porém que observaria mais tarde seria o volume bastante alto de veículos no estacionamento terceirizado. No sábado (11), ao receber a visita da minha amiga Paula, ouvi o relato de seu pai que não havia manobristas em número suficiente para atender à demanda. Parece que não era só isso. Um dos elevadores sociais estava parado com problemas e havia acúmulo no transporte dos visitantes. Detalhes que relevo, pois no traço geral a avaliação sobre o Nove de Julho não poderia deixar de ser melhor. Internação realizada, fui encaminhado ao quarto para os preparativos (exame de sangue, coagulação etc). Foram três picadas de agulhas logo de cara. Haja determinação para um sujeito como eu que sempre esperneava ao chão, berrava e chorava ao ver uma agulha de injeção quando criança! Ao mesmo tempo que dividia a atenção entre minha mãe, Rosi e os enfermeiros que não paravam de entrar no quarto, fixava momentaneamente meu pensamento em cada uma das pessoas que havia deixado em Araraquara. O Magdalena no ar, a expectativa de se pedir a corrente de orações aos ouvintes ao final do programa daquela segunda-feira, tudo aquilo me fez voltar instantaneamente para a primeira cirurgia em 2002. Eu não imaginava que ele fosse pedir preces, pensamentos e orações na abertura do jornal naquele dia de setembro. Fiquei muito surpreso com aquilo. Desta vez a corrente pareceu estar fortificada. Gostaria de poder cumprimentar e agradecer cada ouvinte que fez esse gesto por mim. Tanto na primeira como nesta cirurgia. Antes mesmo de ter ciência que teria a segunda cirurgia pela frente, ainda encontrava pelas ruas de Araraquara ouvintes que me contavam sobre as orações da primeira intervenção. Imagino agora a força espiritual que todos me deram desta vez. Fico com o coração apertado só em pensar, pois minha vontade, naquele exato momento, era estar ao lado de todos aqueles que me apoiaram para que tudo desse certo, como de fato ocorreu. Mas parece inexplicável traduzir esse aperto que senti, sentado na cama, prestando atenção em tudo aquilo que o anestesista, o Dr. Shibata e as enfermeiras me diziam. Perto das 14 horas estava recebendo o pré-anestésico e sendo levado para o centro cirúrgico. Já estava grogue.
Depois da cirurgia A intervenção durou cerca de quatro horas. Não me recordo, mas o Dr. Shibata me garantiu que respondi todas perguntas que fez assim que saí de lá. Minha mãe e a Rosi foram me espiar. Estava em algum outro lugar que minha cabeça nem poderia imaginar. Tudo transcorreu bem. Enquanto estava na mesa de cirurgia, elas foram almoçar no 12º andar e, para matar o tempo de espera, foram se aventurar na Rua José Paulino, atrás de confecções. De quebra, fiquei sabendo mais tarde, conheceram de passagem a cracolândia, tema de equipes de reportagem dias atrás. Tudo vale a pena quando a alma não é pequena, dizem. Rosi faz questão de contar que conheceu a tal ‘lândia’. Uberlândia? Analândia? Não! Cracolândia! Que aventura! Terça (7) UTI Acordei lentamente da anestesia perto das 16h30, com enjoo. Toalhas aos dois lados em boa quantidade, esforçava-me para respirar sozinho, ao mesmo tempo que a ânsia mostrava seu pique e me acudiam com mais toalhas. Da primeira cirurgia acordei me debatendo, entubado e amarrado na cama. Desta vez devo ter criado uma memória seletiva para não passar o mesmo ‘carão’, pois me controlei mais rapidamente e podia reparar no mundo à minha volta: aparelhos bipando o tempo todo, o televisor do meu leito 24 na UTI sintonizado num canal que vi de relance a Mariah Carey cantando I´ll be there do Michael Jackson. Alguns minutos se passaram até recompôr melhor minhas ideias e perceber que era o showneral do rei do pop, ao vivo para todo o planeta e para mim também, com um dreno pendurado na cabeça, sonda e soro em dois acessos venosos no braço direito. Para assistir melhor e ter noção exata daquilo, não lembro se pedi para que trouxessem meus óculos, mas o curioso era olhar à minha frente e notar mais dois leitos à direita de um total de 26 somente no 10º andar. Da primeira cirurgia havia ocupado o leito 10 (são dois andares de UTI no Nove de Julho, fiquei sabendo, com 45 profissionais e três médicos a cada turno de serviço distribuídos em quatro postos de enfermagem, coisa de gente grande mesmo, para curiosidade de jornalista, mesmo na UTI!). Mas o que me coube naquele momento era aquilo mesmo: enfermeiras entrando, medindo pressão, aplicando medicação e anotando tudo. Havia também fisioterapia, que me acompanhou o restante da semana, já no quarto, com diversos exercícios. Nem sei ao certo como consegui pegar no sono em alguns momentos. A novela das nove eu assisti sem mirar muito a atenção no que ocorria. Ainda estava lunático. Quarta (8) Quarto Os médicos da equipe do Dr. Shibata haviam passado de manhã e liberado o café e almoço. No final do dia estava de alta da UTI e estava sendo transportado para o quarto.
Gilmara, uma das técnicas de enfermagem, marcou por sua simpatia e atenção. E haja força para empurrar, em duas, o leito até o quarto... Que alívio poder ficar mais à vontade! Apesar de todas intervenções necessárias das enfermeiras nesse próximo período, a situação era completamente diferente. TV a cabo, frigobar, o ambiente mais calmo que uma UTI, era uma transformação que se passava entre os elevadores da UTI até o corredor do 5º andar. Naquele momento nem me importava com o barulho do trânsito vindo da Avenida Nove de Julho ao lado do túnel. Queria mais é descansar ao lado da Rosi, que me acompanhou pela segunda vez. E ela estava em férias do hospital onde trabalha! Que férias, não? Quinta (9) – Feriado estadual Na quinta-feira, feriado estadual de nove de Julho, São Paulo estava uma paradeira só. Olhar a avenida, o corredor de ônibus quase sem movimento eram o sonho de quem vive a loucura paulistana: poucos ônibus, carros que atravessavam lentamente as ruas atrás do vão livre do MASP davam o contorno da calmaria. Neste dia a Paula, amiga de longa data, foi me visitar. Levou um pão doce, apesar da recomendação expressa do hospital em não oferecer alimentos fora da dieta aos pacientes. Sem problemas.
No sábado a Paula voltou acompanhada de seu pai, levando algumas empadas do Rei das Empadas na Sena Madureira. Valeu, Paula! Momentos assim são velozes, mas gratificantes pela companhia e pela conversa. Sexta (10) Tiraram o último acesso que havia em meu braço e podia ficar livre com meus movimentos. Minha dieta era geral desde quarta-feira e a comida oferecida pela empresa terceirizada do Nove de Julho merece elogios, inclusive pela opção de escolha de cardápio para o almoço e jantar do dia seguinte. A nutricionista passava todos dias perguntando sobre a qualidade do que era servido. Muito bom. Começava a ficar ansioso pela alta médica e poder ir embora. Sábado (11) Recebi a visita de Priscila, uma amiga de Araraquara, acompanhada do seu namorido. Mudou-se de Brasília e está morando em Pinheiros. É jornalista da TV Brasil. Foi bom revê-la e saber que está tudo bem também com sua mãe e a irmã, Maria Luiza. Aliás, faz mais de dez anos que eu as conheço. Maria Luiza cursou engenharia naval em Jaú e depois jornalismo na Uniara. Priscila foi direto ao jornalismo e ingressou na TV Brasil. Domingo (12) Rosi percebeu minha ansiedade pela alta médica da segunda-feira. Parecia cavar um buraco no quarto do hospital, de tanto que andava para lá e para cá. A hora não passava. Mas agüentei firme. Segunda (13) O café-da-manhã era trazido ao quarto po volta das 6h30, mas neste dia já estava acordado na cama, louco para poder levantar e dizer: “Daqui a pouco vou embora”! Às 10 horas já estava indo embora. Sem restrição em poder viajar (sem ser dirigindo, claro) já estava a caminho de Araraquara no meio da tarde. Cansado, aproveitei essa semana para descansar e tentar colocar meus reflexos em ordem. Nos exercícios com a fisioterapeuta havia falado sobre não conseguir manter linha reta nas caminhadas e ainda estar um pouco descoordenado em meus movimentos. Foi explicado que é normal nos primeiros dias e a situação volta ao normal, afinal de contas as interligações nervosas do cérebro foram afetadas durante a cirurgia. Mas que dá nervosismo ao querer digitar as coisas e não sair corretamente, isso dá! Passei terça-feira no jornal e até disse um ‘oi’ no ar, com fixação em agradecer o que foi feito por mim. Domingo (19) Volta para SP Daqui a pouco viajo para Sampa e amanhã tiro os pontos metálicos. Estou com outra ansiedade: ouvir do Dr. Shibata sobre a biopsia e saber do tratamento quimioterápico que enfrentarei. Dai-me forças.