sexta-feira, 12 de março de 2010

Sonho da tarde

Calor, quimioterapia, fadiga e sonolência se cruzam trazendo sonhos intensos. Ao menos para mim.
O que não consigo estabelecer é o nexo da química cerebral que desencadeia essas experiências no inconsciente.
Acordei há dez minutos de um cochilo de pouco mais de uma hora, com um leve despertar às 16h05, para marcar na memória o horário que sucedeu minha fantasia.
Faz muito calor em São Paulo esta semana. O termômetro na tela do meu computador marca agora 30oC (às 18h em ponto).
Do quinto ciclo de Temodal comprimidos sinto-me cada vez mais 'aéreo', muito distraído mesmo.
Além da convulsão da minha mão esquerda às 22h da terça (09/03), o clássico 'Jorge versus Miguel' [os gêmeos da novela Viver a Vida sempre em pé de guerra], o conteúdo dos meus sonhos se fortalecem no período da quimioterapia.
Hoje à tarde sonhei que estava em Brasília (DF), no apartamento onde moraram meus tios, Mário e Helena, em férias.
Da última vez a paisagem da janela da sala era a outra quadra [Brasília tem isso, quadras, superquadras, residenciais e comerciais] com prédios comerciais em construção.
No sonho tudo estava erguido, mas o que chamou minha atenção foi uma igreja de médio porte pintada em azul e branco. Não sei se era católica ou protestante, mas era muito atraente.
Ao olhar para baixo, contemplando o lugar (estive lá por duas vezes na vida real), percebi o zelador caminhando sobre o gramado do bloco de apartamentos.
Ele transportava um saco plástico preto (desses de 100 litros) com folhas secas de árvores.
Fixei-me no seu rosto e assustei: era o 'Joãozinho da pedra', um porteiro que trabalhou na emissora e fugiu com toda a família depois de assassinar uma mulher a pedradas às margens da SP 255 (rodovia Antônio Machado Santana, entre Araraquara e Ribeirão Preto) em 1993.
Lembro que o corpo da vítima estava no canteiro de obras da duplicação do trecho conhecido por reta dos motéis. À época eu era comunicador de FM.
Era o 'Joãozinho' lá embaixo, pensei. Como veio se esconder em Brasília?
Do elevador desci até o vão dos prédios para ter certeza daquilo.
Mas, ao aproximar, percebi que não era Joãozinho. Assemelhado no rosto, mas não era.
Mergulhado no sonho, retornei ao terceiro andar e reencontrei meus primos, minha mãe, minha tia e meu irmão.
Algumas coisas estavam diferentes na sala, no banheiro e nos quartos e cozinha, mas era o lugar.
Perguntei à minha mãe como viajamos até Brasília se não lembrava de ter dirigido ou embarcado em um ônibus.
"De avião", respondeu. "Aproveitamos a milhagem acumulada da sua avó e viemos", completou.
Acordei novamente. 17h20. Um calor insuportável aqui em Sampa.
Narrei à minha mãe, com todos os detalhes, o que havia sonhado. Ela fica intrigada com minha capacidade de lembrar detalhes do que sonho: conversas, cores e lugares.
Muito antes das duas cirurgias ou tratamentos, consegui -na maioria dos sonhos mais fortes-, recordar tudo, passo a passo.
O pormenor é que meu tio Mário faleceu em 1994 e meu pai, 2006. Ambos não apareciam neste sonho.
Se possui algum significado, não nos é permitido alcançar.

Fechando
22h45: O termômetro marca 26oC na tela do computador.
Será difícil dormir novamente. Ingeri os 280 mg de Temodal às 21h20 e sinto uma coceira pelo corpo, semelhante a alergia. Ficou mais forte desde o quarto ciclo.
Minhas narinas ardem como se tivesse instilado gotas de soro.
Preciso de uma ducha para refrescar e aliviar a coceira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe sua opinião, sugestão ou crítica!