quarta-feira, 21 de abril de 2010

Episódios estranhos

Usei aparelhos ortodônticos durante minha infância para correção da mordedura. Ao mesmo tempo, comecei um tratamento de fonoaudiologia.
Era uma clínica instalada na Vila Mariana em São Paulo (SP), um antigo e enorme sobrado de esquina reformado.
Minhas sessões com a fonoaudióloga aconteciam três vezes por semana.
Lembro-me do lugar: o pé direito do antigo imóvel havia sido transformado em recepção e espera. As amplas salas de estar e jantar deram espaço a divisórias eucatex para algumas salas de fono, assim como o corredor que terminava em uma grande cozinha.
Um enorme hall ficava no topo da escada, com acesso a três suítes, um quarto e um banheiro, enormes.
Este espaço me intimidava.
Meu tratamento começou em uma das salas ao lado da recepção. Em determinada sessão, a fono foi transferida ao andar superior, no antigo quarto de hóspedes, adaptada aos pacientes.
Cada sessão durava cerca de uma hora.
Na metade de uma delas, pedi para ir ao banheiro.
Como não era suíte, perguntei qual a porta do banheiro antes de sair até o hall.
Segunda porta à esquerda, disse minha fonoaudióloga.
Vi a porta entreaberta. Por educação, aproximei e dei três batidas leves. Nada. Bati novamente.
-"Tem alguém aí?", perguntei.
"Não!" foi a resposta de uma voz gutural, assustadora.
Saí correndo de volta à sala, chorando.
A fonoaudióloga quis saber o que havia acontecido.
Contei. Ela quis me tranquilizar. Não teve jeito.
Mesmo pegando em minha mão direita e mostrando que não havia ninguém ao empurrar a porta do banheiro e mostrar que as suítes estavam todas trancadas, não houve solução.
Nem banheiro, nem xixi, nem o resto da sessão. Só soluço.
Ela desceu comigo e explicou [ou tentou] à minha mãe o ocorrido.
Aquela casa me dava arrepios toda vez que entrava. Desde o primeiro dia.
Tinha oito ou nove anos.

No jornal, outro evento bizarro.
Em uma reportagem no Parque Pinheirinho em Araraquara (SP), um fato inusitado atrapalhou a conclusão da matéria.
Estava ao lado de uma lagoa onde uma criança havia se afogado no final de semana.
Era segunda-feira. Os bombeiros estavam no local.
Ao iniciar a transmissão pelo rádio da unidade móvel, fiz um breve apanhado do registro policial. O nome da vítima, idade, onde residia etc.
Depois de conversar rapidamente com um dos bombeiros envolvidos nas buscas do corpo do menino, passei a entrevistar um dos familiares.
No momento em que ele começou a falar, o barulho de alguém serrando um cano de ferro entrou subitamente no ar, a ponto de encobrir o que ele falava.
Do estúdio, José Carlos Magdalena -âncora do jornal-,  interveio para perguntar quem estava serrando um cano perto de mim, prejudicando nossa transmissão.
Quando Magdalena começou a falar, o 'serrote' parou.
Expliquei que não havia ninguém executando serviço de serralheria nas proximidades e retomei minhas perguntas ao pai do garoto afogado.
Ao começar a responder, o barulho do serrote recomeçou no ar, mais agudo ainda.
Magdalena parou novamente a entrevista [o barulho parou de novo] e desta vez foi mais incisivo:" Álvaro, tem certeza  que não há ninguém por perto com um serrote fazendo isso?"
-"Magdalena, ao meu lado estão os bombeiros se preparando para entrar na lagoa e o pai do menino. Ninguém mais", respondi.
"Então conclua sua reportagem, por favor", disse.
Minha última pergunta ao pai do menino foi ao ar sem interferências, mas assim que ele começou a responder, o serrote no cano de ferro voltou tão estridente como da vez anterior.
Sem chance. Tive que desistir. Devolvi a bola ao estúdio.
Até hoje não consigo encontrar explicação para a voz assombrada que escutei do banheiro e como aquele ruído de um serrote avançando sem dó em um cano de ferro entrou limpinho no ar, sem causar qualquer tipo de falha na transmissão da unidade móvel ao estúdio.
Quando alguns radioamadores encontram a frequência da nossa unidade móvel é fácil, com um rádiocomunicador, interferir nas transmissões, mas percebe-se o chiado de entrada e saída dessas intervenções.
No caso do Parque Pinheirinho o barulho do serrote era limpo, sem 'picotes' de entrada e saída de interferência, causando a impressão que alguma pessoa estava a cinco metros de mim, levando tudo ao ar.

Um comentário:

  1. Alvinho, bom saber que estás de volta e com o humor de sempre.
    Quanto ao episódio do pinheirinho deve ser um aviso de que não gostam do Magdalena! ha! ha! ha! - brincadeirinha...
    isso são coisas que somente Deus poderá responder.
    bjus amigo.

    ResponderExcluir

Deixe sua opinião, sugestão ou crítica!