quarta-feira, 12 de maio de 2010

Posicionamento dos jornais

Logo abaixo estão uma carta publicada no Painel do Leitor da Folha de SPaulo deste 11/05/2010 e a causa do comentário perspicaz, publicado pela ombudsman Suzana Singer, empossada no cargo em abril deste ano:

Imprensa

"A Folha e "O Estado de S. Paulo" ainda mantêm uma linha editorial retrógrada e ultrapassada, como se a população de São Paulo fosse hoje como era há 60 anos, composta por pessoas mais cultas.
Hoje, infelizmente, 80% da população é semianalfabeta -e não gosta de ler. Mas ambos os jornais continuam usando colunistas para omitir opiniões tendenciosas, que não esclarecem nada. E o povão não está nem aí para ler reportagens ou análises.
Que os diretores das redações leiam e releiam o que escreveu a senhora Suzana Singer, ombudsman da Folha, sobre o que foi exposto acima. Parabéns a Suzana Singer pelo puxão de orelhas dado."
FRANCISCO DE ALMEIDA FERRAZ (São José dos Campos, SP)

SUZANA SINGER

ombudsman@uol.com.br


Menos opinião, mais informação
Para se diferenciar da informação ligeira da internet, a Folha está investindo em textos que contextualizem a notícia, mas falta distinguir melhor análise de opinião
A Folha tem 99 colunistas. Em comparação com os concorrentes nacionais e com vários jornais do exterior, ganha de todos em número de colunas por espaço editorial. É, provavelmente, recordista mundial em "colunismo".
Desde o ano passado, o jornal vem formando um novo time, desta vez de analistas. São 128 especialistas, incluindo alguns jornalistas da casa, convidados a escrever pequenos textos que devem contextualizar a notícia do dia anterior.
A iniciativa, louvável, é uma das formas que o jornal encontra de se diferenciar da informação bruta, seca e ligeira da internet.
É um meio também de enriquecer o noticiário sem contaminar a reportagem: o jornalista descreve, da forma mais neutra possível, o que aconteceu e, ao lado, outra pessoa tenta inserir o fato em um cenário maior.
Para deixar clara a diferença entre o que é notícia e o que não é, a Folha usa vinhetas de "análise", "artigo", "opinião" e "depoimento". São palavras azuis acima dos títulos.
Nos últimos dias, porém, vendeu-se gato por lebre. Textos opinativos apareceram travestidos de análise. A diferença, às vezes tênue, é importante. Em 29 de abril, Dinheiro publicou que "é hora de reverter os estímulos dados para que o crescimento se acomode em patamar mais sustentável, evitando que a festa de consumo, investimento e gastos do governo de hoje se transforme em ressaca inflacionária mais à frente". A frase, que parece declaração do presidente do Banco Central, fecha um desses textos editados como "análise".
No dia seguinte, outro artigo, em Brasil, dizia que, na validação da Lei de Anistia pelo Supremo Tribunal Federal, "prevaleceu o medo atávico de enfrentar vergonhas do passado". Mais uma vez, a identificação que aparecia era "análise".
Há uma semana, foi a vez de Mundo de editar um texto "analítico" ao lado de uma longa entrevista com o presidente da Venezuela. Nele, o autor afirmava que Hugo Chávez é o "campeão" da "enrolação" e que é "mais idolatrado do que Cristo num culto evangélico" nos meios de comunicação oficiais.
A confusão ocorre, em geral, quando há um suposto consenso sobre o assunto focado: parece unânime que a inflação deve ser combatida com juros, que seria melhor julgar torturadores e que Hugo Chávez odeia a liberdade de imprensa. É tão "óbvio" que nem parece opinião.
Um comunicado da Secretaria de Redação, divulgado nesta semana, define os requisitos que uma análise deve ter: histórico do acontecimento focado, suas consequências e implicações, o ambiente em que o fato se deu, os beneficiados e prejudicados, os desdobramentos práticos e, quando possível, diferentes interpretações da notícia.
Já nos textos opinativos, o autor toma partido, argumenta, defende medidas e tenta convencer o leitor. É o que fazem os 99 colunistas, escolhidos justamente por terem convicções fortes. A Folha não precisa de mais opinião em suas páginas. Mais informação, em formato de análise, é sempre bem-vinda.

PIMENTA EM MANCHETE
Na terça-feira, a Folha manchetou: "Governo quer estimular portador de HIV a ter filho". O que se entende é que o governo pretende incentivar soropositivos a engravidar, certo? Não era isso que dizia a reportagem.
O texto dizia que o Ministério da Saúde discute um documento que orientará os portadores de HIV que queiram ter filhos a fazer sexo sem camisinha, mas da forma menos arriscada possível (em datas e condições clínicas específicas).
É um tema polêmico, porque a Organização Mundial da Saúde indica apenas inseminação artificial nesses casos.
Mais próximo da realidade era o título interno: "Governo defende reprodução planejada de soropositivos".
A Secretaria de Redação não concorda que a manchete estava errada. Afirma que "o conjunto de orientações do Ministério da Saúde configura um estímulo à reprodução".
Acho que a Folha decidiu, sem precisar, colocar mais pimenta num assunto já picante.

IRRITANDO CORINTIANOS
Vários leitores escreveram reclamando de "brincadeiras" da Folha com corintianos. Na quinta-feira, na capa de Esporte, foi publicada uma foto de um torcedor arrasado, com os dizeres "sem ter nada", um trocadilho com "centenário" que o clube comemora neste ano.
Na Folha Online, uma "reportagem" elencava brincadeiras e piadas que circulam na rede desde a derrota do Corinthians. Pra que irritar o leitor?

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